segunda-feira, 19 de maio de 2008

ARTIGO DO COLEGA RICARDO TAVARES NO JORNAL DE ECONOMIA OJE DE 19 DE MAIO DE 2008

Esta intenção do presidente iraniano tem de ser analisada na sequência de um conjunto de outras acções, todas relacionadas com as transacções internacionais de petróleo. Para melhor entendermos o contexto, é necessário recuar até ao final de 2000, quando o então presidente do Iraque Saddam Hussein substituiu o dólar pelo euro nas transacções internacionais de petróleo. Embora no momento os motivos desta decisão fossem exclusivamente políticos (resposta a sanções aplicadas), esta veio a resvalar acertada mais tarde, aquando do início da depreciação do dólar face ao euro. No mesmo momento, Saddam anunciou a intenção de criar a sua própria bolsa de petróleo, transacionada em euros. A invasão do Iraque pelos Estados Unidos deixou a bolsa de Saddam apenas pela intenção. Desde o início da década até agora, outros países alteraram a forma como olhavam para o dólar, como por exemplo, a Venezuela. Hugo Chávez decidiu substituir as reservas da Venezuela em dólares por euros. Encorajou os países em desenvolvimento a permutarem entre si bens, e com a Venezuela através da troca pelo petróleo. Todas as acções anteriores são exemplos de tentativas de alguns países de substituir o dólar pelo euro como moeda de referência na transacção do petróleo.
A intenção do presidente iraniano é mais uma, mas a uma escala maior. A utilização do euro pela OPEP em vez do dólar fará com que muitos países tendam trocar as suas reservas de dólares por euros. Esta alteração originaria uma desvalorização algures entre os 20% e os 40% da moeda americana. Isto originaria uma crise nos Estados Unidos que passaria à escala mundial, através dos mecanismos de transmissão monetária. Se, por exemplo, olharmos para a balança comercial da China (um gigante em crescimento), observamos que os Estados Unidos são o principal destino das suas exportações (com um crescimento de 14,4% de 2006 para 2007). No cenário de desvalorização do dólar, a crise estaria também à porta da China. E depois destes, o mesmo mecanismo chegaria a outros…
Do ponto de vista dos países da União Europeia, a passagem da transacção do petróleo de dólares para euros por parte da OPEP, teria algum interesse. A constituição de reservas em euros por parte dos outros países (compradores ao países da OPEP) eliminaria o risco cambial. Esse aumento da procura de euros iria valorizar ainda mais a nossa moeda. Os dois argumentos anteriores juntamente com o facto dos países da União Europeia serem os principais importadores dos países que compõem a OPEP, fariam com que, a prazo, o euro tomasse o lugar do dólar como moeda de referência e de transacções a nível mundial.
Em suma, a proposta do presidente iraniano poderá originar uma crise nos Estados Unidos e esta alastrará a uma escala mundial. A magnitude dos efeitos e os resultados dos mesmos dependem da interligação dos mercados a nível mundial.

Finalista do Curso de Economia FEG-da Universidade Lusófona

1 comentário:

João Soares disse...

A China é um dos poucos grandes países com imensas reservas de dólares, pelo facto das suas exportações terem origem para os E.U.A. Em termos cambiais os Estados Unidos da América estão na «mão» da economia chinesa. Se os chineses colocarem nos mercados financeiros uma parte da grande reserva em dólares, substituindo assim as suas reservas para o Euro, a economia Americana pode «afundar-se» .